Monday, August 08, 2005

Waguinha e o Caixão Submarino.


Waguinha era um garoto sonhador, típico suburbano de cabelo amarelado, tinha um boné com uma placa de ferro pregado nele e era fanzoca do Stallone, tinha vários posters do Stallone, todos em filmes oitentóides dele. Andava a semana toda com seu melhor amigo, Claudinho Asqueroso, matavam aula pra ir ao fliperama do shopping onde gastavam seu dinheiro nas máquinas de dança e baixando melodias pro celular, mas era o domingo o dia mais esperado, toda aquela maratona maravilhosa da televisão, Caldeirão do Huck pro Gugu, Gugu pro Pânico, Pânico pro Gugu, Gugu pro Faustão, Faustão pro Gugu, Gugu pro Show de Calouros, Show de Calouros pro Fantástico e pra finalizar aquele filminho na Band.

Foi numa dessas que Waguinha se deu bem, foi sorteado para ir ao programa do Gugu. Foi lá e ganhou um dia no parque aquático do Gugu com seu melhor amigo o Asqueroso e tudo o que teve, que fazer foi beijar o lacraia na boca. Uma semana depois estavam os dois se banhando em piscinas 30% mijo e se entupindo de brozeador Cenoura & Bronze cedido pela produção do programa. Foi então que Waguinha tomou coragem para descer no Slippery Falls, o brinquedo aquático mais temido de qualquer parque aquático, também conhecido como "Caixão Submarino". Era um colosso de plástico, metal e obscuros erros de engenharia e arquitetura. Descia por uma colina horrorosa, se contorcendo, espiralando, vazando e, em alguns locais, sustentado por colunas bambas e três esqueletos de operários menos cuidadosos.

Apesar dos avisos de Asqueroso, Waguinha caminhou confiante até o teleférico meia-boca que levava até lá no topo. Estava tentando botar banca pra umas barangas demoníacas que estavam se refestelando num misto-quente e flertando com ele e Asqueroso. No meio da subida ficou com medo, era bem alto, mas ainda dava pra ver Asqueroso se esfregando com uma das barangas enquanto comia uma chapa de carne com batata frita na borda da piscina. Quando chegou no topo quase desistiu, mas mesmo que quisesse nao poderia descer, não havia outro caminho de volta, então foi.

Alguns disseram que ele estava esperneando freneticamente no momento do desastre, alguns dizem que ele se contorcia como um rabo de lagartixa, mas todos concordaram quando falaram do grito arrepiante que Waguinha soltou na terceira curva do Slippery Falls, apelidada de tamburelo pelos médicos do hospital local. Mas a verdade foi que quando chegou na tamburelo, os ossos raquíticos de Waguinha não suportaram o
turbilhão, ele tremeu e envergou seu corpo franzino numa espécie de aquaplanagem infernal, então enviezou, saiu do prumo, soltou um peido de tanta força que fez e vasou pela lateral.

Gostaria que esse fato nao passasse batido pois poucos sabem do horror de se sentir um peido de uma pessoa num momento de total terror, o corpo num último instinto de sobrevivência finge a morte e expele a derradeira bufa para que o suposto predador crie bom senso e vá comer algo mais fresco. Foi por isso que o garoto que veio atrás de Waguinha perdeu seus sentidos imediatamente quando passou pelo local
que Waguinha resvalou.

Acharam Waguinha, praticamente paralítico, arreganhado sobre um fusquinha no estacionamento há alguns metros dali. No hospital lhe disseram que ninguém viu o tal Asqueroso e que ele devia estar delirando sob o efeito da morfina. Mais tarde encontraram Asqueroso e uma baranga mortos e inchados como verrugas, presos no ralo da piscina de ondas. Aparentemente, disseram os médicos, Lulu Samborges (a baranga) tivera uma congestão por comer dentro d'água e afundara em cãibras como o Titanic, engalfinhada no boçal do Asqueroso. Ainda mais tarde o próprio Gugu apareceu por lá para lhe dar uma cadeira de rodas do Gugu, um tapinha nas costas e um documento pra Waguinha assinar.